quinta-feira, junho 5

outra que me eneeeerrrvaaaaaaaaaaaa...

Já sei que estão a pensar ... ah a esta tudo a irrita... não, só certos e determinados detalhezinhos com bases bem fundamentadas até ... e esta esteve para saltar para o blog logo a seguir há hora de almoço, mas uma reunião que me durou uma tarde inteira e cenas depois, não me permitiram ... e só agora venho aqui exorcizar este demónio... pois é...se há coisa que me deixa piursa da vida são seguranças de parques de estacionamento de grandes superficies armados em policias de transito... "ahhh não pode ir por ai" diz ele com um ar altamente autoritário como se o simbolo da empresa que carrega no casaco, ainda por cima mal costurado e em farda castanha, fosse um distintivo que lhe desse autoridade sequer para olhar para mim quanto mais para me dizer se posso ir para a esquerda ou para a direita ... como é obvio saltou-me logo o ar de embirrantezinha e pensei logo de seguida no Cântico Negro de José Regio o qual TANTO adoro e com que me identifico (umas coisitas aqui e ali)... Não posso ir por ali??? CLARO QUE FUI POR ALI!!!
CÂNTICO NEGRO
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços, E nunca vou por ali...

A minha glória é esta: Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!
Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
-Sei que não vou por aí!

(Grande) José Régio
(simplesmente fantástico)

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